quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

De Lacóbriga até ao Castelo de Alandroal (Parte I)

O Alandroalense João Cardoso Justa tem vindo a fazer um estudo sobre os primórdios do Alandroal, defendendo que a mítica cidade de Lacóbriga "jaz" sobre a atual Vila do Alandroal. O seu primeiro estudo culminou na publicação de " A Cidade do Endovélico", que o Alandroalandia irá aqui publicar em tempo oportuno.

Agora o Alandroalandia vai publicar  o seguimento desse estudo e as implicações e efeitos colaterais das atuais obras do castelo no património histórico do Alandroal, segundo defende o João Cardoso Justa.

Por uma questão editorial, o estudo vai ser publicado em dias diferentes. Aviso desde já e porque o defensor desta tese está identificado, o leitor que queira fazer contraditório terá de o fazer identificado.

A Cidade do Endovélico
 
Lisboa/Janeiro/2013
Caros alandroalenses:
Após a resumida publicação (o suporte/blog assim o exigiu) do estudo a que procedi sob as remotas origens desta surpreendente caixa de segredos, que a Vila do Alandroal e a região envolvente escondem, e nela defendi que parte da mítica cidade de Lacóbriga jaz sob os seus alicerces, passei os três meses deste último Verão a pretender confirmar no terreno o que os documentos indiciavam. Desta diferente forma de ler, deste olhar pelas evidências que, em abundância, continuam a pejar os nossos solos, assim como das surpreendentes descobertas que deles emanaram, vos quero dar conta, pois são vocês, para que tenham perfeita consciência de quem sois (somos), os primeiros destinatários das matérias que investigo.
Numa fase posterior, pelo interesse documental/científico e, portanto, pelas possibilidades argumentativas que encerram, aqui divulgarei os documentos e as ideias que não me foi possível incluir na referida publicação.


Alandroal, 10 de Fevereiro de 2013 / duas e meia da “matina”.
Leio o texto anterior (delineação de intenções) sem saber como lá incluir a perturbação que hoje, ao visitar o Castelo (não havia qualquer placa de proibição, senhores polícias do ex-IGESPAR e seus colaboradores) se apoderou de mim. Tenho, desde que na infância “trambolhei” das suas muralhas, uma especial ligação com a “alma” destas pedras, e dói-me particularmente, como coisa física, o “sacrilégio” com que o estão a mutilar, a adulteração criminosa, a descaracterização do seu misterioso corpo e da fantástica história que pulsa, esperando pela sua verdade, sob os ancestrais alicerces. Assim, agora com outro distanciamento, sem a paixão da surpresa de tão brutal acto, e sobretudo, com outros elementos de análise, vejo-me obrigado (sem prejuízo dos objectivos que havia delineado) a voltar a esta triste página, escrita por gente sem um mínimo de cultura ou sensibilidade, que conspurca o livro da nossa verdadeira história e destrói o que devíamos preservar, tirando paralelamente, proveito da sua divulgação.
Desta vez (para que não se repitam as alegações à minha fértil imaginação), fá-lo-ei pelas palavras de outros, estes sim, historiadores encartados.
ANTÓNIO REI
“Os castelos entre o Odialuiciez e o Odiana (713-1298)”
« É possivel, no entanto, que no local onde ele se ergue (o Castelo do Alandroal) ou nas suas proximidades, tenham existido previamente outras construções, das quais terão sido aproveitados alguns materiais, para a edificação do actual castelo, e que apresentam características morfológicas que remetem, um para o período islâmico; e outos dois para o período visigótico.»
«Este castelo continuará a ser, seguramente, um manancial de informação por explorar, ao nível, por exemplo, das estruturas construídas e da metrologia das mesmas»
FRANCISCO SOUSA LOBO
“Alandroal, Terena e Juromenha : três sistemas defensivos.”
Castelo do Alandroal
«Chegou aos nossos dias em razoável estado de conservação depois do restauro a que foi sujeito há umas dezenas de anos. A relação com a envolvente, no entanto, muito alterada, pois a Lagoa que existia a sul do castelo» ( Lacobriga – Lago+Castelo) «foi enxuta com o andar dos séculos e aterrada há muitos anos. Era uma situação inédita em Portugal esta, do castelo protegido parcialmente por um obstáculo aquático. Tinha por certo grande beleza aquele local, cujo encanto chegou até hoje, mesmo tendo perdido o lago que se desenvolvia na fachada Sul. Como memória dessa água abundante, que constituía quase um oásis no coração do Alentejo, permanece a fonte da vila, belíssima construção do sec. XVIII »
MANUEL INÁCIO PESTANA
Reflexões históricas sobre a sua importância e antiguidade”
“Alandroal, terra antiga desde quando?”
«Estas palavras escritas na informação do prior Bento Ferrão Castelo Branco para as Memórias Paroquiais de 1758 que confirmam o que ainda hoje se pode dizer, ou seja, QUE HOUVE UM ANTIGO ALANDROAL, ANTIGO DO TEMPO DOS ROMANOS, BÁRBAROS (Visigóticos/Alanos) E MOUROS. POVOAÇÃO EXISTENTE E REGIÃO HABITADA POR POVOS ANTIGOS, CUJAS MARCAS AINDA PERDURAM…»
«Provada a sua antiguidade medieval pelas referências que ao seu termo territorial se fazem no foral de V. Viçosa de 1270, no de Èvoramonte de 1271, considerado mesmo em tempos de idêntica qualidade de municípios, instituído e consagrado por seus vizinhos moradores, ACREDITAMOS QUE AINDA MAIS REMOTOS VENHAM AS SUAS ORIGENS. A propósito de um primeiro foral – Afonsino talvez (D. Afonso Henriques) – Fazemos mais adiante algumas considerações para sustentar tal hipótese. Lembramos aqui, para reforço dessa antiguidade do concelho alandroalense, as palavras do autor do desenvolvido artigo publicado na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira cujas reflexões se nos afiguram muito judiciosas :  ……….  Alandroal, que existia já em 1270 como povoação, que tinha termo próprio, era certamente já um concelho (sem foral ou com foral que se perdeu – não importa) concelho com que partiram ou foram partir os de Vila Viçosa, Juromenha, Terena, não um reguengo, até pelo senhorio da Ordem de Calatrava. »
« No enunciado do foral manuelino pode ler-se – Foral da villa do allãndroal dado por el Rey dom affonso o primeiro…
«As pesquisas arqueológicas, que muito se deseja venham a efectuar, confirmarão a existência anterior neste lugar de outra ou de outras edificações, casas, templos, ou fortaleza. Peças incrustadas já referidas por António Rei são sinais destas suspeitas (recordamos que Túlio Espanca também já havia referido a existência de vestígios visigóticos). »

 Continua... 

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